Resumo: A mordomia cristã e o novo normal. A pandemia afetou a igreja por meio de fatalidades, doenças físicas e mentais, e perda nos dízimos e nas ofertas, forçando cortes. Ao passarem por dificuldades e desafios financeiros, muitos precisam escolher alimentar a família ou apoiar o evangelho por meio da devolução dos dízimos e da doação das ofertas.
A Mordomia Cristã e o Novo Normal
Junto com a COVID-19, vieram um novo normal e uma nova terminologia: distanciamento social, EPI (equipamento de proteção individual), Auxílio Emergencial, N95 (a melhor máscara), rastreamento de contatos e mais.
Dependemos mais do que nunca de nossos aparelhos celulares, computadores, e provedores de internet para cumprir as diretrizes do home-office. Nós vivenciamos a falta de produtos, negócios sendo fechados ou declarados em falência, e o desemprego prejudicou as finanças das famílias. E o pior de tudo desde a primeira semana de outubro de 2020, as mortes de mais de um milhão de pessoas em todo o mundo foram atribuídas ao vírus.
A pandemia afetou a igreja por meio de fatalidades, doenças físicas e mentais, e perda nos dízimos e nas ofertas, forçando cortes. Ao passarem por dificuldades e desafios financeiros, muitos precisam escolher alimentar a família ou apoiar o evangelho por meio da devolução dos dízimos e da doação das ofertas. Muitos consideram que o mais prudente na mordomia seria deixar de lado aquele dinheiro para cuidar da família em meio aos tempos de dificuldade. O que fazer?
O QUE VOCÊ ESCOLHE?
A mordomia cristã e o novo normal. A palavra mordomia tem muitas vezes uma conotação negativa. Talvez, sem intenção, o foco da mordomia tornou-se transacional (distorcido financeiramente) em vez de transformador (equilibrado espiritualmente). Muitos de nós somos introduzidos à mordomia cristã como uma pausa na adoração para dizimar e ofertar. No entanto, eu diria que a mordomia é adorar tanto quanto qualquer ato de adoração. Adorar significa doar tudo paraAquele que amorosamente Se entregou por nós. É parte do evangelho eterno que devemos pregar ao mundo. “Adorem aquele que fez os céus, a terra, o mar e as fontes das águas” (Ap 14:7, NVI).
Adorar a Deus precisa ser uma experiência exultante. Afinal de contas, o Pai é o supremo doador. Jesus é o maior presente (Jo 3:16,17) e nosso exemplo. O Espírito Santo é o nosso guia máximo. A generosidade de Deus é tanto revolucionária quanto relacional. Por causa do nosso relacionamento com Ele, nós nos deleitaremos em nos aliarmos a Ele na missão Dele—levar o evangelho eterno ao mundo.
“Deus nos comunica Suas dádivas para que também demos, e deste modo revelemos Seu caráter ao mundo. Na dispensação judaica as dádivas e oferendas formavam uma parte essencial do culto a Deus. Os israelitas eram ensinados a consagrar ao serviço do santuário o dízimo de toda renda. Além disso deviam trazer ofertas expiatórias, ofertas voluntárias e ofertas de gratidão. Esses eram os meios para sustentar o ministério do evangelho naquele tempo. Deus não espera menos de nós do que do povo antigamente. A grande obra da salvação precisa ser levada avante. Pelo dízimo, ofertas e dádivas fez Ele provisão para esta obra”[1].
Portanto, a mordomia é, essencialmente, em primeiro lugar, sobre relacionamento! “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas” (Mt 6:33, NVI). A mordomia enfatiza o relacionamento entre o mordomo (gerente da vida) e o Criador (Dono). Enfatizar a generosidade relacional deve ser o novo normal para aqueles que não viram a mordomia cristã sob essa luz.
GENEROSIDADE REVOLUCIONÁRIA
A generosidade revolucionária demanda que desafiemos nossa perspectiva. Como a generosidade realmente age, parece e sente no contexto da nossa realidade atual? Eu sugiro que o foco mude do financeiro para o fiel.
Ao pensar sobre generosidade, muitas pessoas focam no tamanho do presente ou na nobreza da causa. Mas Jesus mede a generosidade pela condição do coração do doador. “Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração” (Mt 6:21, NVI). Por ser uma questão do coração, a mordomia vai além do valor da moeda. É uma questão espiritual de imitá-Lo e fielmente gerenciar os recursos que Ele colocou à nossa disposição. Dar tudo a Jesus é adorar. E adorar é um estilo de vida. O espírito de generosidade exemplifica corretamente os princípios da mordomia bíblica.
A mordomia cristã e o novo normal. Podemos categorizar o gerenciamento da vida (mordomia) em sete filosofias básicas de estilo de vida da mordomia cristã.
Tempo. Espiritual: tempo de construção do relacionamento com Deus por meio da oração e do estudo da Bíblia. Prático: tempo organizacional de planejamento de agenda no presente e no futuro para si e para a família.
Templo—corpo. Espiritual: “Vosso corpo é o templo do Espírito Santo” (1Co 6:19, ACF). Meu corpo é propriedade de Deus.Prático: gerenciamento do corpo-saúde.
Talento—talentos de Deus. Espiritual: Deus concede às pessoas habilidades para fazer Sua obra. Prático: Deus dá às pessoas talentos para desempenharem uma atividade produtiva de sustento. E Terra—Nós cuidamos do planeta (terra firme)com os talentos. Deus deu aos seres humanos a habilidade de cuidar de cada aspecto do nosso planeta (mordomos da Terra, Gn 2:15).
Tesouro. Espiritual: o relacionamento com Deus por meio dos dízimos e das ofertas. Prático: finanças pessoais/administração do dinheiro/perdão de dívidas.
Confiança em Deus. “Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas” (Pv 3:5,6, NVI).
Teologia. Fundamentos bíblicos e o estudo dos princípios do estilo de vida da mordomia cristã.
Testemunho. Verbalizar o que Deus fez, faz e fará.
Para o crente, a mordomia cristã (gerenciamento da vida) se refere à duas áreas:
(1) a vida pessoal do membro e;
(2) a vida da igreja, organização e instituição. Ela envolve a construção de relacionamentos, oestabelecimento de objetivos, orçamento, a devolução dos dízimos e das ofertas, campanha de fundos, angariação de fundos, empreendedorismo e mais. A mordomia se estende a todos os ministérios da igreja em todos os níveis e é um ensinamento bíblico central, reconhecido pela Igreja Adventista do SétimoDia como uma crença fundamental.
Charles E. Bradford, ex-presidente da Divisão Norte-Americana, observou que a mordomia cristã “abraça e conecta muitas das grandes doutrinas [ensinos, princípios] da igreja e se torna um princípio de organização da compreensão das Escrituras. Os . . . [ensinos bíblicos da] criação, humanidade, redenção e restauração; os . . . [princípios do] sábado . . . e a igreja são inextricavelmente ligados com a ideia da mordomia cristã. Mordomia cristã é . . . a raiz da missão, a base para compartilhar o evangelho com o mundo”[2].
Então, vamos começar um novo normal—uma revolução completa de generosidade entre o povo de Deus que irá guiá-los a serem mordomos fiéis. “O que se requer destes encarregados é que sejam fiéis” (1Co 4:2,NVI).
O QUE VOCÊ FEZ COM ELE?
Muitas pessoas estão vivendo dificuldades financeiras durante o período da pandemia do coronavírus. Difíceis decisões precisam ser tomadas:
(1) limitar todos os gastos não essenciais;
(2) tentar economizar mesmo que seja um pouco de cada pagamento;
(3) cortar onde for possível;
(4) conversar com o cobrador das dívidas sobre possíveis opções disponíveis como resultado da COVID-19;
(5) utilizar o posto de alimentação ou doações da igreja que possam prover a sua subsistência ou a do seu vizinho. Se você está em uma situação de poder ajudar estas organizações financeiramente (por exemplo, Serviços Comunitários Adventistas ou ADRA), então, faça.
A pergunta no coração de Deus não é “O que você tem?”, mas “O que você está fazendo com o que você tem?” Isso nos transporta para um nível mais alto em nosso relacionamento de amor com Deus e com nossos semelhantes. Quando a mordomia se torna uma questão do coração, ela me ajuda a ser um doador alegre.
Na parábola dos talentos, “o senhor daqueles servos voltou e acertou contas com eles” (Mt 25:19, NVI). Ele descobriu que dois dos seus três servos haviam investido fielmente os fundos que ele havia deixados com eles. “Muito bem,” ele declarou. Essa ideia de acertar as contas é similar à atividade envolvida no juízo investigativo que acontece em nossos dias. Deus simplesmente pergunta para aqueles que administram Seus bens algo óbvio: O que você fez com o que eu deixei com você? Eu disse que voltaria. Eu deixei você para cuidar da sua família e do meio ambiente, eu permiti que você administrasse a sua saúde e a sua riqueza, você cuidou dessas coisas para a Minha glória ou para a sua?
Esse mesmo jesus
Nós encaramos nossos armários vazios. Os fundos estavam baixos e as taxas altas. Como recém-casados na faculdade, nós nos alegrávamos quase que incontrolavelmente quando qualquer dinheirinho entrava. Reservávamos a parte de Deus (dízimo e oferta), pagávamos as contas e então orávamos pelo que sobrava. A comida era escassa, mas repetidas vezes a campainha tocava, e caixas de comida apareciam na entrada da nossa porta. Cantávamos músicas de alegria à medida em que enchíamos nosso armário, colocávamos comida na geladeira, e compartilhávamos com outros da nossa comunidade habitacional estudantil.
A COVID-19 mudou muita coisa, mas não tudo. Deus supriu nossas necessidades antes, e em Deus nós confiamos hoje. O vírus pode ter impactado sua saúde ou tirado de você o seu negócio ou o seu emprego, mas Jeová Jiré, nosso Provedor, abrirá outros caminhos para sua sobrevivência. Deus não prometeu libertar os jovens hebreus da fornalha, Ele simplesmente apareceu no fogo. A restauração pode não vir nessa vida, portanto, vista as coisas dessa terra folgadamente. Deus usa as circunstâncias para desenvolver o carácter—e o carácter transcende essa vida para a nova terra.
Isso é mordomia no seu melhor nível. Ela foi testada nas fornalhas ardentes da vida. “Ponham-me à prova, e vejam se não vou abrir o próprio céu para vocês e derramar bênçãos além dos seus sonhos mais improváveis” (Ml 3:10, A Mensagem). Começa tendo um relacionamento de amor com Deus—um relacionamento demonstrado não por palavras rebuscadas, mas por ações de fidelidade.
A igreja é um organismo vivo, que respira e cresce—e ela é resiliente. Ela enfrentará desafios, como já enfrentou no passado, e irá passar por ajustes, assim como foi no passado. Os seguidores de Jesus sabem que eles enfrentarão momentos difíceis. “Nunca o deixarei, nunca o abandonarei” (Hb 13:5, NVI). A atual pandemia passará, mas Deus está procurando por fidelidade tanto durante quanto depois da tempestade. Esse é o novo normal que Deus quer que vivenciemos agora.