UM CORAÇÃO NO REINO

Marcos 12:41-44
 “Sentado diante da caixa de ofertas, Jesus observava como o povo lançava ali o dinheiro. Ora, muitos ricos depositavam grandes quantias. Vindo, porém, uma viúva pobre, lançou duas pequenas moedas correspondentes a um quadrante. E, chamando os seus discípulos, Jesus disse: — Em verdade lhes digo que esta viúva pobre lançou na caixa de ofertas mais do que todos os ofertantes. Porque todos eles deram daquilo que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo o que possuía, todo o seu sustento.” (Marcos 12:41-44)

INTRODUÇÃO

          Um dia com Cristo sempre era um dia incomum. Aos olhos humanos, não havia nada de extraordinário naquela cena, que para olhos rasos não passava de grandes doadores com grande coração e ofertantes tão medíocres que nem mesmo o tilintar das moedas se poderia ouvir. Mas é incrível a interpretação quando os olhos da Onipotência se põem a observar.

          Descrevendo esse momento ímpar, Ellen White discorre: “Num momento, Sua fisionomia iluminou-se ao ver uma pobre viúva aproximar-se hesitante, como receosa de ser observada… espreitando o ensejo, deitou apressadamente suas duas moedinhas, e virou-se para se afastar, ligeira. Ao fazê-lo, porém, encontrou o olhar de Jesus, cravado nela” (O Desejado de Todas as Nações, p. 432).

          De repente, o cenário muda, e se veem ofertas grandes dadas por corações pequenos e ofertas “pequenas” doadas por corações grandes. Quem tem o coração no Reino jamais fará cálculos quando
o assunto for o Rei e Sua Causa. Se assim não for, tudo mais será equivocado.

          Essa história é mais que uma pérola da mordomia — é sobre uma devoção tão genuína ao Rei e ao Seu Reino que, quando tal espírito for predominante entre nós, veremos finalmente a resposta à nossa oração: “venha o Teu Reino”.

          Essa também é uma história sobre missão, pois, como disse certa vez Oswald Smith: “Missões se fazem com os pés dos que vão, com os joelhos dos que ficam e com as mãos dos que contribuem”. O crescimento do Reino não depende só das moedas das “viúvas” modernas, mas de mulheres com o coração no Reino como aquela anônima viúva do relato.
          
          “Jesus disse da viúva pobre: Ela ‘lançou mais do que todos’. Os ricos deram de sua abundância, muitos deles para serem vistos e honrados pelos homens. Seus grandes donativos não os privaram
de nenhum conforto, nem mesmo do luxo; não tinham exigido nenhum sacrifício que pudesse ser comparado, em valor, com as moedas da viúva” (Conselhos sobre Mordomia, p. 109).

RAZÕES DE UM CORAÇÃO NO REINO

          Não pode haver um coração devoto ao Reino sem que antes tal coração seja do Rei. Sem que Cristo seja a Razão das razões, nunca haverá uma entrega total. O avanço da obra de Deus sofre, não por falta de talentos ou de moedas, mas de uma devoção que só é possível nascer de uma entrega total. A evangelização não será impulsionada por corações parcialmente entregues. Precisamos estar, nós mesmos, no próprio altar, antes de colocar qualquer coisa lá.
Ilustração:
          Cabe relembrar a história de um diácono que passava com a salva para recolher as ofertas na igreja quando uma criança fez sinal para que ele abaixasse ainda mais a salva.
          Mesmo não sabendo a razão do pedido, o diácono tentou atender ao desejo da criança e descobriu que ela mesma queria entrar na salva como forma de ofertar-se totalmente a Deus.
          Dando um tom especial ao motivo por trás das razões no assunto da viúva, Ellen White diz: “É o motivo que imprime cunho às nossas ações, assinalando-as com ignomínia ou elevado valor
moral. Não são as grandes coisas que todos os olhos veem e toda língua louva, que Deus reputa mais preciosas” (Beneficência Social, p. 204)

APLICAÇÕES PRÁTICAS:

A) Benefícios que transpõem o tempo e o lugar: Aquela viúva tinha esperança de que seu pouco, que na verdade era seu tudo, chegasse até onde ela não podia chegar. Até hoje a história e o exemplo dessa mulher têm movido corações não só para o sustento das missões, mas para a própria missão. “A
viúva pobre deu sua subsistência para fazer o pouco que fez. Privou-se de alimento para oferecer aquelas duas moedinhas à causa que amava. E fê-lo com fé, sabendo que seu Pai celestial não passaria por alto sua grande necessidade. Foi esse espírito abnegado e essa infantil fé que atraiu o louvor do
Senhor” (Beneficência Social, p. 204).

B) Gratidão: Um coração grato não é fruto de celeiros cheios, mas, acima de tudo, de um coração transbordante. Ela conseguia ver as dádivas de Deus, dádivas que transpõem as cifras. Ter Deus era melhor do que os presentes de Deus. Todo coração grato será missionário em sua entrega.

C) O Rei: Qualquer motivação que exceda essa resultará num serviço ofensivo a Deus. Não haverá motivo que valha a pena para entregarmos nossos dons, tesouros e tempo ao reino se antes não formos tomados pela convicção de que tudo é do Rei.

ATITUDES DE UM CORAÇÃO NO REINO

          O grande destaque dessa mulher acaba sendo quase que totalmente direcionado para sua doação, e isso não é sem razão. Mas nunca devemos nos esquecer de que a doação não é maior que o doador. A contribuição dessa mulher transcende sua época. Em todos os tempos verbais, ela doou mais. No momento em que Jesus observa, ela doa “tudo”. Não é uma exagero do texto ou uma força de expressão. Ela saiu do templo com as mãos vazias, porém com um coração cheio.

          Nos tempos que se seguiram à sua doação, ela inspirou e ainda inspira a fidelidade de muitas pessoas. Mas a história vai além das duas moedas, pois ela venceu:

A) Limitação física:
Provavelmente ela era uma mulher de idade e carregava profundas dores da vida. Podia desculpar-se de não ir mais para o templo, contentar-se com viver das memórias de suas dádivas e serviço. Porém, o que vemos era alguém que o tempo não poderia parar, pois sua vida era um ato de
adoração.

          De acordo com o filósofo brasileiro Mario Sergio Cortella, a ética é baseada naquilo que quero fazer, naquilo que posso e naquilo que devo (ou não). “Tem coisas que queremos, podemos, mas não devemos. Tem coisas que podemos, devemos, mas não queremos. Mas também há coisas que não devemos, não queremos nem podemos”, explica ele. Por meio dessas três questões, podemos montar inúmeras outras para justificar o que é ético e o que não é.

         Esta mensagem é um pequeno relato de Jesus quando discursava no Templo em Jerusalém, falando acerca de uma viúva pobre que queria ofertar, podia, mas aparentemente não devia, só que,
mesmo assim, o fez (como está escrito em Marcos 12:41-44 e em Lucas 21:1-4).

B) Limitações sociais: Na sociedade da época de Jesus, as viúvas pertenciam ao grupo dos pobres. Viúvas e órfãos eram o símbolo do desamparo, da marginalização. Estavam entregues à própria sorte. Não havia sistema previdenciário, um SUS que os amparasse. Viúvas não davam oferta – mendigavam esmolas. Elas eram marginalizadas, porque dependiam de outras pessoas para sobreviver. Se não tinham filhos, estavam então, totalmente desamparadas.

          Por mais que fossem explícitas as leis de Deus concernentes aos cuidados das viúvas, isso não era levado muito a sério. Elas viviam no abandono que ia além do financeiro. Se tivessem sorte, sobreviveriam das migalhas de outros. Poucas pessoas eram mais vulneráveis do que elas. Aquela viúva tinha a desculpa perfeita para não doar nem se doar. Mas um coração no Reino não pode ser contido por nenhum obstáculo. Não subestime um coração devotado ao Reino! Toda generosidade que deseja atrair admiração é pobre e superficial. O Céu vai além quando julga o que doamos e julga a motivação por trás da ação.

LIÇÕES DE UM CORAÇÃO DEDICADO AO REINO

1. Nunca fará das desculpas um terreno fértil quando o assunto for a causa de Deus. Não é cego às imperfeições, mas também não se deixa cegar pelas distorções que o cercam. “Sacrifício” nunca será uma palavra adequada para quem reconhece o tamanho de sua dívida com Deus. Nosso aparente anseio
pela volta de Cristo é contrastado pela visível omissão com a pregação do evangelho. Ou estamos dispostos a sacrifícios pela evangelização ou precisamos ser evangelizados. A viúva não transitava no cômodo terreno do “não posso”;

2. Não sobrevive de aplausos; trabalha para o Rei; nada o deixa mais feliz do que Seu contentamento; tudo o mais é secundário. Aquela viúva não tinha ideia de que os olhos onipotentes a observavam;

3. Todos temos o que oferecer. Não ache que não há lugar para você. Você tem uma parte especial a desempenhar na obra de Deus. Aquela viúva não tinha ideia da influência que sua ação provocaria;

4. Nunca dará menos do que tudo. A lei do menor esforço não reside no coração dedicado ao Reino. Ele teme que qualquer economia, seja de tempo, talentos ou recursos, redunde em uma fronteira a menos a ser alcançada. Não há outra explicação para o pouco compromisso com a pregação do Evangelho do que ainda não sabermos o real preço dele. A palavra “tudo” não foi ofensiva só ao “jovem rico”. Há muitos que hoje estremecem quando ela é mencionada nos púlpitos. Sua simpatia pelo Evangelho some quando esse preço é apresentado.

CONCLUSÃO

          Quanto mais corações semelhantes ao dessa viúva houver, mais apressaremos o avanço do Reino de Deus na Terra, e então veremos finalmente a manifestação de Seu Reino nas nuvens do Céu. A história dela tem marcado tantas outras histórias… Não é um relato sobre duas moedas, mas de um coração entregue por inteiro. Sem dúvidas, como nos lembra Ellen White: “O povo de Deus é chamado para uma obra que requer dinheiro e consagração. As obrigações que sobre nós repousam trazem-nos a responsabilidade de trabalhar para Deus até o máximo de nossa capacidade. Exige Ele serviço não dividido, a inteira devoção do coração, espírito e forças” (Conselhos sobre Mordomia, p. 21).

APELO

          Que, à semelhança dessa mulher, nosso coração seja de forma integral do Rei e, consequentemente, não mediremos nenhum esforço, talento ou tesouros quando o assunto for a causa de Deus. Levantem-se pelo Rei, levantem-se pelo Reino!

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