Guarda do Sábado

Resumo: Guarda do Sábado. O Sábado sempre foi o memorial de Deus com a humanidade. Sua origem remonta os dias da criação, conforme nos é apresentado no livro de Gênesis 2:1-3.

GUARDA DO SÁBADO

Êxodo 20: 8-11

INTRODUÇÃO

Guarda do Sábado. O Sábado sempre foi o memorial de Deus com a humanidade. Sua origem remonta os dias da criação, conforme nos é apresentado no livro de Gênesis 2:1-3. Na crescente onda de secularismo e busca desenfreada pelo dinheiro, o dia do Senhor passou cada vez mais a ser um mandamento esquecido e até combatido com os mais diversos argumentos por aqueles (líderes religiosos) que deveriam defendê-lo veementemente.

(1) Preâmbulo Linguístico

Ao concluir sua obra criatória, a Bíblia menciona três ações verbais de Deus referentes ao sétimo dia que analisaremos mais detidamente: descansar, abençoar e santificar.

A língua hebraica (hebraico bíblico) se caracteriza pela riqueza de seu vocabulário, possuindo este aproximadamente 8.000 vocábulos (verbetes, palavras). Para se ter noção do que seria isso, a língua portuguesa possui mais de 200 mil vocábulos. Dizem os linguistas que quanto menos palavras possui uma língua, um idioma, mais rico ele é, visto que se expressa muito conceito em poucas palavras, ao passo que quanto mais vocábulos tenha determinado idioma, mais pobre ele é, uma vez que se expressa pouco conceito com muitas palavras.Guarda do Sábado.

O hebraico conta com apenas dois tempos verbais Perfeito (passado) e Imperfeito (futuro), o presente é entendido pelo contexto. Os verbos podem ser classificados em 7 troncos principais que vão mudando a intensidade do verbo alterando sua significação. Por exemplo: o verbo matar na forma simples – Qatal, quando no tronco Piel (que é o intensivo ativo) muda o significado para assassinar.

“Quebrar” vira “despedaçar”, “pedir” vira “mendigar”, “estudar” vira “ensinar” (já passa de aluno pra professor). É o mesmo verbo, a mesma raiz, apenas coloca-se um pontinho no meio da palavra e mudam-se as vogais para que o verbo tome outro significado.

(2) Memorial Criativo

Você deve estar se perguntando, qual a importância disso tudo? É um sermão ou uma aula de hebraico? É válido salientar, como dito anteriormente, que pelo fato de a língua hebraica ser muito rica, o processo de tradução muitas vezes não contempla os conceitos mais profundos deste idioma. É o que ocorre em Gênesis 2: 2 e 3, principalmente verso 3. Ali, quando menciona que Deus descansou (Waishbôt) (Cessou, guardou, observou), está na forma simples do verbo. Mas os dois verbos seguintes no verso 3 abençoar e santificar não, eles estão na forma ativa intensa (piel).

O verso diz que Deus (Wayevarech) (Abençoou – está no Piel) e Ele (Wayeqadesh) (Santificou, Consagrou – também está no Piel). Aqui o que se pode extrair são os conceitos mais que a tradução apenas. Quando afirma que Deus abençoou e santificou no tronco Piel, que é a forma mais intensa em que o verbo hebraico pode se apresentar, o autor de Gênesis está inferindo que “Deus abençoou esse dia com a bênção máxima, não havia mais espaço para Ele abençoar, toda bênção possível fora dada”, que “Deus santificou com o máximo de santificação possível, não havendo mais espaço para santificar mais”. Uma tradução conceitual diria: “Abençoou com força” o dia sétimo e o “Santificou com força”. Guarda do Sábado.

Assim, notamos que este é um dia separado, abençoado desde a criação, feito por Deus para o homem antes do pecado e não como uma necessidade pós-queda. Ele ganha espaço no decálogo dado no Sinai não como algo novo, mas uma lembrança, um memorial criativo de Deus. Guarda do Sábado.

(3) Memorial Redentivo

Depois do cativeiro egípcio Deus repetiu a ordenança do sábado em sua lei dos dez mandamentos. Ali, Ele as escreveu em tábuas de pedra com o próprio dedo para que o povo de Israel não as esquecesse. De fato é o único mandamento que inicia-se com o verbo (Zachar – Lembrar) e é justamente o que a humanidade esqueceu-se. Mais tarde, Moisés, servo de Deus, repetiu esta lei sagrada ao povo num discurso antes de sua morte.

a) Deuteronômio 5: 6-21. Aqui há um acréscimo dito por Moisés, mas muito relevante para a compreensão do dia Sétimo:

“Guarda o dia de sábado, para o santificar, como te ordenou o SENHOR, teu Deus. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhuma obra nele, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu, nem o estrangeiro que está dentro de tuas portas; para que o teu servo e a tua serva descansem como tu; porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o SENHOR, teu Deus, te tirou dali com mão forte e braço estendido; pelo que o SENHOR, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado.” Guarda do Sábado.

O sábado é também um memorial redentivo. Servia para lembrar ao povo que eles foram escravos no Egito e Deus os libertou. Esta libertação era comemorada com a páscoa, que apontava para a redenção que Cristo faria pela humanidade, libertando-a da escravidão (não do Egito) mas do pecado. Em última instância, o sábado também prefigurava o Messias e sua obra redentiva.

(4) A Progressão númerica com o 7

Em todo o Antigo e Novo Testamentos, notamos que há algo de especial com o número sete. Não é uma questão mística, mas parece tratar-se de uma predileção divina: 7 dias da semana, 7 dias antes de começar o dilúvio, a arca repousa no sétimo mês, 7 anos de fartura e fome no Egito, em vários momentos no Êxodo o 7 foi usado insistentemente. Esta progressão se evidencia com o dia, mês, ano…

a) 7° Dia
Levítico 23: 3 “Seis dias obra se fará, mas o sétimo dia será o sábado do descanso, santa convocação”

b) 7° Mês
Levítico 16: 29-31 “E isto vos será por estatuto perpétuo: no sétimo mês, aos dez do mês, afligireis as vossas almas, e nenhum trabalho fareis nem o natural nem o estrangeiro que peregrina entre vós. Porque naquele dia se fará expiação por vós, para purificar-vos; e sereis purificados de todos os vossos pecados perante o SENHOR. É um sábado de descanso para vós, e afligireis as vossas almas; isto é estatuto perpétuo.”

c) 7° Ano
Levítico 25: 1-7 e Deuteronômio 15: 12-15 “Quando teu irmão hebreu ou irmã hebréia se vender a ti, seis anos te servirá, mas, no sétimo ano, o despedirás forro de ti. E, quando o despedires de ti forro, não o despedirás vazio. Liberalmente o fornecerás do teu rebanho, e da tua eira, e do teu lagar; daquilo com que o SENHOR, teu Deus, te tiver abençoado lhe darás. E lembrar-te-ás de que foste servo na terra do Egito e de que o SENHOR, teu Deus, te resgatou; pelo que te ordeno hoje esta coisa.”

d) 49° Ano
Levítico 25: 8-13 e 38 “Também contarás sete semanas de anos, sete vezes sete anos, de maneira que os dias das sete semanas de anos te serão quarenta e nove anos. Então, no mês sétimo, aos dez do mês, farás passar a trombeta do jubileu; no dia da expiação, fareis passar a trombeta por toda a vossa terra. E santificareis o ano qüinquagésimo e apregoareis liberdade na terra a todos os seus moradores; Ano de Jubileu vos será, e tornareis, cada um à sua possessão, e tornareis, cada um à sua família.

O ano qüinquagésimo vos será jubileu; não semeareis, nem segareis o que nele nascer de si mesmo, nem nele vindimareis as uvas das vides não tratadas. Porque jubileu é, santo será para vós; a novidade do campo comereis. Neste Ano de Jubileu, tornareis cada um à sua possessão.[…] Eu sou o SENHOR, vosso Deus, que vos tirei da terra do Egito, para vos dar a terra de Canaã, para ser vosso Deus.”

A progressão parte do 7° dia, 7° mês, 7° ano e finda com o 49° ano. O Jubileu era o auge. Era o 7², 7×7 (sete vezes sete anos, como diz o texto)… a perfeição da perfeição, o Sábado dos Sábados. Neste dia era também celebrado o Yom Kippur, o Dia da Expiação (que era comemorado no Sétimo mês). Tudo era festivo e sagrado (a festa ainda era maior quando este dia caía também no sábado semanal). O povo deveria tratar bem seu irmão; deveria devolver a terra que pertencia a seu irmão; deveria ajudar o órfão e a viúva. Era chamado “o ano aceitável do Senhor.” Guarda do Sábado.

(5) O ano aceitável do Senhor

Diz o livro de Isaías 61: 1-3 “O Espírito do Senhor JEOVÁ está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para pregar boas-novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos e a abertura de prisão aos presos; a apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes…”

Estas características descritas em Isaías 61 são predicados do Ano do Jubileu, Que também é chamado de “ano aceitável do Senhor.” Vários comentários bíblicos associam o texto de Isaías com o Jubileu descrito em Levíticos (Comentário Bíblico de Beacon, vol. 4, pag, 185;

Comentario Biblico Espositivo do Antigo Testamento de Warren W. Wiersbe, vol. 4, 603; O Novo Comentário Bíblico do Novo e Antigo Testamento de Earl D. Radmacher, H. Wayne House e Ronald Allen, pag. 1101; Isaías: Introdução e Comentário [Série cultura Bíblica], pag. 489).

Segundo os comentaristas Earl D. Radmacher, H. Wayne House e Ronald Allen: “Proclamar liberdade provavelmente é uma alusão à inauguração oficial do Ano da Libertação, ou do Jubileu (Lv 25.10).”

Para o comentarista J. Ridderbos “o ato de levar a cabo a liberdade em seguida de proclamação do “ano aceitável do Senhor”; isto é, um ano de graça demonstrado pelo Senhor para os que estavam algemados. A palavra “ano” (como a palavra “libertação” no v. 1) alude à instituição do Ano do Jubileu (Lv 25).

Ainda sobre o texto de Isaías diz Warren W. Wiersbe: “O contexto dessa passagem é o ‘ano do jubileu’ descrito em Levítico 25:7ss. A cada sete anos, os judeus deviam observar o ‘ano sabático’ e deixar a terra descansar.

Depois de sete anos sabáticos, ou seja, quarenta e nove anos, deviam celebrar o quinquagésimo ano como ‘ano do jubileu’. Nesse ano, todas as dívidas eram canceladas, todas as terras eram devolvidas a seus proprietários originais, os escravos eram libertos e todos podiam recomeçar. Essa era a maneira do Senhor de equilibrar a economia e evitar que os ricos explorassem os pobres.”

APLICAÇÃO
A. Como Cristo interpretou (Lucas 4:18-21 e 28-29).
Lucas 4:18-20, 21 e 28-29 “O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados do coração, a pregar liberdade aos cativos, E restauração da vista aos cegos, A pôr em liberdade os oprimidos, A anunciar o ano aceitável do SENHOR. E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele.

Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta escritura em vossos ouvidos. […] E todos, na sinagoga, ouvindo estas coisas, se encheram de ira. E, levantando-se, o expulsaram da cidade, e o levaram até ao cume do monte em que a cidade deles estava edificada, para dali o precipitarem.”

Neste episódio vemos claramente a interpretação que Cristo faz da passagem de Isaías. Ele aplica a Si as prescrições contidas no Jubileu, naquele ano sabático. É como se Cristo estivesse falando aos judeus: “Eu Sou o verdadeiro Sábado, Eu Sou o Jubileu, Eu Sou o Sábado dos Sábados. Eu quem liberto. Eu trago liberdade aos oprimidos e curo os quebrantados de coração.” A reação dos judeus à declaração de Cristo foi de completa rejeição. A atitude deles em querer matar Jesus demonstrava que eles não o aceitaram como cumpridor final da profecia. É como se eles estivessem dizendo: “Tu não és o nosso Sábado, não aceitamos a Ti como o nosso Jubileu.”

Guarda do Sábado. O Sábado é também um tipo onde o antítipo é Cristo. Ele apontava para a libertação do pecado. O próprio Cristo se interpretou na profecia de Isaías como sendo o Sábado do Jubileu. Aquele único capaz de “curar os quebrantados do coração, pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos e anunciar o ano aceitável do SENHOR”.

CONCLUSÃO

Se Cristo não for o meu (Shabat -descanso), não haverá descanso algum. Se Ele não for o meu Sábado, posso guardar todos os Sábados da Terra, e não terei descansado. Descanse e guarde o Dia do Senhor, mas não esqueça do Senhor do Sábado. O verdadeiro descanso só existe nEle.

“Se você crê em Jesus Cristo como seu Salvador, então está vivendo dias semelhantes aos de um ‘ano do jubileu’ espiritual. Você foi liberto da escravidão; suas dívidas espirituais foram pagas; está vivendo no ‘ano aceitável do Senhor’. Em vez de cinzas do luto, você tem sobre a cabeça uma coroa, pois o Senhor fez de você um rei (Ap 1:6). Você foi ungido com o óleo do Espírito Santo e veste uma roupa de louvor e justiça (Is 61:3, 10).” (Comentario Biblico Espositivo do Antigo Testamento, Warren W. Wiersbe, vol. 4, 603)

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