DEUS SE ARREPENDE?
Como Entender o Arrependimento de Deus?
By Pr. Márcio Greyck
Deus não se arrepende, mas na Bíblia existem textos que parecem afirmar que Deus se arrepende. Então diante da dificuldade em explicar o arrependimento de Deus, algumas pessoas pensam que essa discussão representa alguma contradição bíblica.
Mas na Bíblia não, há qualquer erro, falha ou contradição. É verdade que para compreendermos plenamente este assunto, seria necessário que pudéssemos explicar totalmente o ser de Deus, sua mente e seus atributos. Claro que isto é impossível ao homem. No entanto, um estudo cuidadoso de alguns textos bíblicos nos ajudam a entender se Deus se arrepende ou não.
A Bíblia diz que Deus se arrepende?
Encontramos várias referências sobre um, categoria de arrependimento de Deus em diferentes livros da Bíblia (Gênesis 6:5-7; Êxodo 32:12; 1 Samuel 15:10,11,35; 2 Samuel 24:16; Jeremias 18:7,8; Jonas 3:10). Dentre estas referências, vamos utilizar o texto de 1 Samuel como exemplo para analisarmos o assunto.
Então veio a palavra do Senhor a Samuel, dizendo:
Arrependo-me de haver posto a Saul como rei; porquanto deixou de me seguir, e não cumpriu as minhas palavras. Então Samuel se contristou, e toda a noite clamou ao Senhor.
E nunca mais viu Samuel a Saul até ao dia da sua morte; porque Samuel teve dó de Saul. O Senhor se arrependeu de haver posto a Saul rei sobre Israel. (1 Samuel 15:10,11,35)
Como foi dito, também existem várias referências bíblicas que afirmam categoricamente que Deus não se arrepende de forma alguma (Números 23:19; 1 Samuel 15:29; Oseias 13:14; Tiago 1:17). Citaremos como exemplo aqui um texto do livro de 1 Samuel.
E também aquele que é a Força de Israel não mente nem se arrepende; porquanto não é um homem para que se arrependa. (1 Samuel 15:29)
Como explicar o arrependimento de Deus?
Para respondermos à pergunta se Deus se arrepende, devemos considerar dois princípios fundamentais que nos ajudam a entender este assunto. Vejamos:
Em primeiro lugar, é comum os autores bíblicos usarem figuras de linguagens com referência a Deus. Em várias partes eles precisaram descrever certas características do próprio Deus de uma forma compreensível aos leitores de várias épocas diferentes.
Então sob este aspecto podemos falar de dois recursos literários muito utilizados na Bíblia:
Antropomorfismo e antropopatismo. Essas duas palavras referem-se a figuras de linguagem utilizadas em alguns textos bíblicos para descreverem Deus como se Ele possuísse formas, propriedades, características ou sentimentos humanos.
Esse recurso foi bastante utilizado na Bíblia. Obviamente nosso vocabulário não consegue descrever plenamente um Deus que é indescritível. O arrependimento de Deus se encaixa nessa característica. Quando algum texto bíblico mostra Deus arrependido de alguma forma, na verdade, ele está indicando um sentimento incompreensível para nós.
Portanto, em segundo lugar, podemos entender que Deus não se arrepende como o homem. Isso significa que esse arrependimento de Deus mencionado na Bíblia em nada tem a ver com o arrependimento humano. O homem se arrepende pela falta de conhecimento sobre o futuro. Quando o homem se arrepende, ele simplesmente expressa seu desejo de jamais ter feito certa coisa. É como se ele dissesse: “Se eu pudesse retroceder com certeza faria diferente”.
Mas Deus não pode se arrepender pela ignorância sobre o futuro. Deus conhece exaustivamente todas as coisas, e seus propósitos são eternos. Então fica fácil perceber a grande diferença que há entre o arrependimento de Deus e o arrependimento humano. Se pudesse, certamente uma pessoa arrependida mudaria o que foi feito; mas Deus jamais mudaria o que Ele próprio fez, mesmo que isso lhe represente algum descontentamento.
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O arrependimento de Deus e as traduções bíblicas
Como podemos falar que Deus se arrepende se Ele é onisciente? É impossível que Ele seja surpreendido! Deus é o criador e o sustentador de todas as coisas. Ele conduz a História segundo os seus propósitos soberanos. Todavia, em simultâneo, em que Ele determinou e conhece todas as coisas, Ele também se mostra um Deus pessoal, que sabe responder às ações e atitudes humanas; Ele atribui responsabilidade moral sobre tudo o que é feito pelo homem.
Então em cada passagem bíblica que fala sobre o arrependimento de Deus, é preciso considerar o seu contexto. Isto lança luz sobre o entendimento correto do texto. Alguns intérpretes discutem se a palavra “arrependimento” de fato seria a melhor palavra para expressar certo sentimento de Deus.
A palavra “arrependimento” na Bíblia traduz algumas palavras hebraicas geralmente provenientes da raiz naham. Dependendo do contexto de cada referência bíblica, tais palavras podem significar: mudança de ideia; mudança de atitude; mudança de plano; entristecer; lamentar; e até mesmo confortar ou tranquilizar alguém em relação a um determinado acontecimento. Então talvez outra palavra nas traduções bíblicas, como, por exemplo “lamentar”, seria mais apropriado para facilitar o entendimento das pessoas com relação ao arrependimento de Deus. Saiba mais sobre as traduções bíblicas.
Jamais Deus se arrepende
Com base no que já destacamos, podemos afirmar com propriedade que Deus não se arrepende e jamais muda. Então esse arrependimento divino mencionado em alguns textos bíblicos, em nada se parece com o nosso arrependimento.
Voltando ao texto de 1 Samuel 15, podemos entender com clareza esse ensino. No versículo 11 o autor declara que Deus se arrependeu de ter colocado Saul como rei. Mas no versículo 29 do mesmo capítulo o escritor bíblico afirma indiscutivelmente que Deus não se arrepende de forma alguma. O escritor destaca que Deus não é homem para ter arrependimento, ou seja, ele reforça o princípio de que a ideia de arrependimento dos versículos 11 e 35, não se trata de nenhum sentimento conhecido pelo homem.
Quando analisamos de forma detalhada a situação descrita no capítulo 15 de 1 Samuel, podemos notar que essa atitude de Deus para com Saul foi devido ao comportamento desobediente do monarca. Em 1 Samuel 12:14, Deus fala de forma específica sobre qual deveria ser o comportamento tanto do povo, quanto do rei de Israel.
Isso não significa que o comportamento humano ocasionou uma mudança em Deus; mas significa que Deus reage às nossas ações de forma providencial. Diante da desobediência de suas criaturas, Deus age de uma forma; já diante da obediência delas, Ele age de outra forma. Quando lemos a história do profeta Jonas, percebemos que foi assim com o povo de Nínive (Jonas 3:10).
De forma resumida, a mudança não ocorre em Deus, mas na relação do homem para com Ele; e Ele reage a essa mudança justamente por ser imutável. Vejamos melhor isto no exemplo a seguir.
Como Deus se arrependeu de ter criado o homem?
Muita gente fica em dúvida sobre se Deus se arrepende ao ler o capítulo 6 do livro de Gênesis. Esse capítulo diz que Deus se arrependeu de ter criado o homem. Entretanto, devemos nos lembrar de que em Gênesis 3:15 Deus já menciona pela primeira vez o plano de salvação. Segundo a Bíblia, esse plano foi concebido pelo próprio Deus antes da fundação do mundo, ainda na eternidade (Efésios 1). Assim, o texto de Gênesis 6 não revela uma possível variação em Deus, ao contrário, ele prova a imutabilidade de Deus.
Ao mesmo tempo, em que Deus lamentou a criação do homem devido o comportamento daquela civilização iníqua, e trouxe juízo sobre aquele povo; Ele também preservou a humanidade através da família de Noé, nos mostrando que Ele não muda e sempre permanece fiel ao seu propósito eterno. Se Deus se arrependesse como nós, Gênesis 6 teria sido o fim da raça humana.
Um exemplo de como seria o arrependimento de Deus
Não há um exemplo perfeito para explicar o arrependimento de Deus. Mas alguns comentaristas sugerem um exemplo que pode ajudar a entender a ideia de como Deus se arrepende. Eles usam a figura de um pai que possuí um caráter exemplar, mas que um de seus filhos cometeu um crime. Ao descobrir o delito do filho, esse pai entrega o próprio filho às autoridades.
Ao mesmo tempo, em que esse homem se lamenta pela atitude que precisou tomar com relação ao filho, ele também está totalmente satisfeito com tal atitude. O pai de bom caráter sabe que ele fez o correto ao entregar seu filho criminoso para pagar pelo delito cometido; e se tivesse que fazer novamente, o pai faria a mesma coisa sem pensar duas vezes.
Concluindo, a melhor maneira de responder à pergunta sobre se Deus se arrepende, é apontando para a soberania de Deus e reconhecendo nossa limitação diante de um Deus imutável, infalível e conhecedor de todas as coisas, cujo propósito jamais pode ser frustrado. Nossa capacidade de raciocínio não é suficiente para entender a coerência que há em Deus. Portanto, só nos resta concordar com Tiago quando diz que em Deus “não há mudança nem sombra de variação” (Tiago 1:17).
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