Boa pergunta!
Quem foi Melquisedeque na Bíblia?
By Pr. Márcio Greyck
Melquisedeque foi um rei e sacerdote contemporâneo de Abraão. Por ser um dos personagens mais misteriosos da Bíblia, muita gente se pergunta quem foi Melquisedeque. Toda essa curiosidade se dá, principalmente, pelo fato de que a Bíblia não nos fornece detalhes sobre sua origem e nem sobre sua morte, mas destaca de forma clara sua grande importância.
Quem foi Melquisedeque na Bíblia?
Melquisedeque era um rei de uma cidade chamada Salém, que provavelmente foi a Jerusalém primitiva, e sacerdote do Deus Altíssimo, no hebraico El Elyon (Gn 14:18; Hb 7:1). O nome Melquisedeque significa “rei de justiça”, do hebraico malki-tsedeq, enquanto o nome de sua cidade, Salém, significa “paz”, “segurança” ou “pacífico”. Logo, Melquisedeque também é “rei de paz” (Hb 7:2).
Por conta de seu aparecimento repentino e seu desaparecimento misterioso, muitas especulações se formaram sobre quem foi Melquisedeque (cf. Hb 7:3). Alguns estudiosos consideram que Melquisedeque teria sido Enoque (Calmet), um anjo (Orígenes), Sem (Targuns, Jerônimo, Lutero), o Espírito Santo (Epifânio) ou até mesmo uma aparição de Cristo pré-encarnado (Ambrósio).
Na verdade, todas essas sugestões não passam de especulações. Particularmente, acredito que o que podemos dizer com certeza é que Melquisedeque foi um gentio (não descendente de Abraão), descendente de Noé, conhecedor e praticante do culto ao verdadeiro Deus, mesmo em meio a todo paganismo da época de Abraão, onde praticamente todas as religiões eram politeístas. Melquisedeque era um líder civil e religioso, isto é, rei e sacerdote.
A religião de Melquisedeque
A Bíblia afirma que Melquisedeque era um sacerdote do Deus Altíssimo, porém alguns estudiosos propõem algumas objeções sobre essa afirmação. Apoiados em algumas evidências arqueológicas de que as cidades cananeias já possuíam sumo sacerdote naquela época e, em alguns casos, estes eram os próprios reis, alguns entendem que Melquisedeque, na verdade, adorava a Baal, o qual era chamado “deus supremo” no panteão cananeu. Outros acreditam que Melquisedeque não tinha uma concepção do Deus único e, sim, de um Deus dos deuses, ou seja, ainda que ele reconhecesse Deus como Altíssimo e criador dos céus e da terra, ainda não era uma ideia puramente monoteísta, talvez algo parecido com o que ocorreu com o rei Nabucodonosor (cf. Dn 4:34-37).
Todavia, tais interpretações não podem ser sustentadas à luz das Escrituras, além de contradizerem até mesmo os dados históricos já levantados, onde a adoração a Baal naquela região foi estabelecida em um período posterior ao que viveram Abraão e Melquisedeque.
Quanto a isso, a Bíblia facilmente esclarece que Melquisedeque era um verdadeiro adorador do único Deus, principalmente considerando as referências sobre ele nos livros de Salmos e Hebreus. Além disso, o respeitado historiador e estudioso da história judaica, o judeu Flávio Josefo, os pais da igreja e os reformadores, nunca duvidaram da verdadeira religião de Melquisedeque.
Melquisedeque no Antigo Testamento
Melquisedeque é citado apenas duas vezes no Antigo Testamento, a primeira em Gênesis, onde narra de fato seu aparecimento, e a segunda em Salmos. Em Gênesis, Abraão (ainda Abrão), estava voltando de uma batalha onde salvou seu sobrinho Ló, e acabou se encontrando com Melquisedeque, que na ocasião trouxe-lhe pão e vinho e o abençoou. O relato termina com Abraão pagando o dízimo do que conseguiu na guerra a Melquisedeque. E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e era este sacerdote do Deus Altíssimo.
E abençoou-o, e disse: bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra; E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. Abrão deu-lhe o dízimo de tudo. (Gênesis 14:18-20)
Em Salmos, Davi, em um salmo messiânico (cf. Mt 22:43), estabelece uma relação entre o sacerdócio de Cristo e o de Melquisedeque. Um possível para esse salmo é a tomada de Jerusalém por volta de 1.000 a.C., o que faz com que muitos intérpretes expliquem o tal salmo considerando o fato da casa de Davi ter se tornado herdeira da dinastia de reis-sacerdotes de Melquisedeque. Jurou o Senhor, e não se arrependerá: tu és um sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque. (Salmos 110:4)
Melquisedeque no Novo Testamento
A relação presente no Salmo 110 é melhor compreendida na Epístola aos Hebreus (Hb 5:6,10; 6:20; 7:1,10,11,15,17), principalmente no capítulo 7, onde o autor reconta a história de Gênesis 14 e ainda realiza uma comparação detalhada entre Cristo e Melquisedeque. Porque este Melquisedeque, que era rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão quando ele regressava da matança dos reis, e o abençoou;
A quem também Abraão deu o dízimo de tudo, e primeiramente é, por interpretação, rei de justiça, e depois também rei de Salém, rei de paz;
Sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre. (Hebreus 7:1-3)
Melquisedeque e Jesus
Os escritores bíblicos apontam para Melquisedeque como sendo alguém que tipificava Cristo. O escritor do livro de Hebreus, no capítulo 7 de sua epístola, utiliza o texto de Gênesis 14 e o salmo messiânico de Davi, e faz uma exposição sobre a importância do aparecimento de Melquisedeque.
Ele compara o sacerdócio de Melquisedeque com o sacerdócio levítico, e afirma que o sacerdócio de Melquisedeque era superior ao sacerdócio dos descendentes de Levi, pois Abraão, de quem a tribo de Levi se originou, foi abençoado por Melquisedeque, reconheceu seu sacerdócio e pagou dízimos a ele.
Portanto, a ordem sacerdotal de Melquisedeque é anterior a de Levi com Arão. Quando ele utiliza a declaração do salmista de que o sacerdócio do Messias é “segundo a ordem de Melquisedeque”, ele estava dizendo que o sacerdócio de Cristo é legítimo e superior ao sacerdócio iniciado com a Lei, e assim como Melquisedeque, de quem não sabemos nada sobre sua linhagem e sua morte, o sacerdócio de Cristo é eterno permanece para sempre, ou seja, não precisa ser substituído por novas gerações como acontecia no sacerdócio levítico.
Basicamente, o que o escritor queria transmitir era principalmente a ideia de que o sacerdócio que os judeus conheciam era temporário, mas o de Cristo é o definitivo, e já existia antes mesmo da lei. Ao entendermos quem foi Melquisedeque, somos naturalmente levados a perceber a soberania de Deus na condução da História e cuidando de cada detalhe para revelar seu Filho amado ao mundo.