Resumo: Jacó-Israel (Gn 32:22-31). Jacó estava livre de Labão. Sob a bênção divina, Jacó se tornou rico. Parecia que finalmente estava feliz. Ele alcançou seu objetivo e estava voltando para Canaã.
Gn 32:28
Foco do Estudo: Gn 32–35; Os 12:3, 4; Jr 30:5-7
Jacó-Israel (Gn 32:22-31). Jacó estava livre de Labão. Sob a bênção divina, Jacó se tornou rico. Parecia que finalmente estava feliz. Ele alcançou seu objetivo e estava voltando para Canaã. Mesmo assim, havia a profunda preocupação com seu futuro naquela terra e com a ameaça representada por seu irmão. Foi precisamente nesse momento que Deus escolheu aproximar-Se dele. Esse confronto extraordinário mudaria radicalmente seu caráter. Como resultado, Jacó foi renomeado como Israel. Seu encontro com Deus em Peniel corresponde ao seu encontro em Betel. Os dois relatos ecoam um ao outro em palavras, estrutura e temas. Enquanto Betel começou ao pôr do sol, Peniel terminou ao nascer do sol, com a perspectiva de um futuro glorioso.
Depois de uma noite de luta, Jacó surgiu desse encontro com uma bênção e um novo nome. Ele teve um encontro pessoal com o Deus de amor e viveu. Por sua vez, Jacó foi capaz de olhar para a face do inimigo, seu irmão, Esaú, com humildade e amor. Então, voltou-se para sua família e foi confrontado com a iniquidade dela – o estupro de Diná, os assassinatos cometidos por seus filhos e, finalmente, a idolatria que ainda prevalecia em sua casa.
A angústia de Jacó. O problema de Jacó antes de chegar à terra prometida contém uma lição de dependência divina e prefigura a angústia escatológica do povo de Deus no tempo do fim.
Lutando com Deus. O encontro de Jacó com Deus o forçou a se confrontar e a mudar. Seu confronto contém lições sobre o significado da conversão.
O rosto do irmão. Como resultado de seu encontro com Deus, Jacó pôde ver o rosto de Deus no rosto de seu irmão. Jacó-Israel (Gn 32:22-31)
A angústia de Jacó
A angústia de Jacó (tsarah) inspirou o profeta Jeremias a respeito da terrível condição de Israel no exílio (Jr 30:7). No entanto, além desse evento particular, a linguagem do profeta sugere claramente que ele tinha em vista o futuro e escatológico Dia do Senhor (compare Sf 1:14-18). Daniel aplicou a mesma expressão, referindo-se à “angústia” ou “tribulação” (tsarah) no tempo do fim (Dn 12:1; compare com Mt 24:15, 21). Jacó-Israel (Gn 32:22-31)
A angústia de Jacó se originava de duas causas. A primeira era horizontal e estava relacionada ao irmão. A segunda era vertical e se relacionava com Deus. A primeira preocupação de Jacó era com seu irmão, a quem enviou dois grupos de mensageiros. Essa iniciativa foi uma operação estratégica para salvaguardar o segundo grupo: caso o primeiro fosse atacado, o segundo teria tempo para fugir. Jacó decidiu enviar “mensageiros” a Esaú. Chamou seus dois grupos de mensageiros humanos pelo mesmo nome, makhaneh, “grupos” (Gn 32:7 [8]). Jacó entendia que, para recuperar seu relacionamento com Deus, ele devia restaurar seu relacionamento com seu irmão.
Semelhantemente a seu avô Abraão, Jacó implorou a ajuda de Deus. Dirigiu seu apelo somente ao Senhor, pois foi Ele quem ordenou que retornasse a Canaã (Gn 32:9), o mesmo Deus que prometeu garantir sua posteridade (Gn 32:12). Jacó se referiu à maravilha da graça divina (Gn 32:10). As duas palavras hebraicas, khesed (“misericórdia”) e ‘emet (“verdade”), são as mesmas palavras que o servo de Abraão usou quando bendisse a Deus por ter ouvido sua oração (Gn 24:27). Depois de orar, Jacó acampou durante a noite. No entanto, antes de descansar, agiu novamente. Assim, o texto se move para frente e para trás entre a oração e a ação. Visto que ele não era ingênuo, e sua fé não o tornava passivo, protegeu seu acampamento. Jacó organizou leva após leva de presentes a ser entregues a Esaú para aplacá-lo (Gn 32:20). O verbo hebraico kpr, para “apaziguar”, significa “expiar”. A associação com outras palavras como minkhah, “presente”, uma palavra que se refere à oferta (Lv 2:1-14), e nasa ‘panim, “perdoar” ou “aceitar”, atesta uma perspectiva religiosa. Jacó tinha em mente sua reconciliação passada com Deus (Gn 32:22-32) ao tentar se reconciliar com seu irmão (compare com Mt 5:23).
Jacó permaneceu sozinho porque desejava orar em angústia de espírito pela intervenção e proteção divinas. Enquanto orava, “um Homem” (Gn 32:24) se aproximou dele. Pensando que estivesse sendo atacado por um inimigo, começou a lutar com o Homem por sua vida. A qualificação anônima “um Homem” torna misteriosa a identidade dessa pessoa. Jacó identificaria o Homem como Deus (Gn 32:30), assim como o profeta Oseias (Os 12:3, 4). A mesma linguagem seria usada por Isaías em sua descrição do Servo sofredor (Is 53:3). Que Deus tenha assumido a forma humana para Se relacionar com os humanos não era algo inédito (veja Gn 18:1, 17; Jz 6:11). O mesmo termo, “um Homem”, foi usado por Daniel para designar o Sumo Sacerdote celestial (Dn 10:5; compare com Dn 8:11) e o príncipe do exército (Dn 8:11), expressão que designa o próprio Senhor (Js 5:14, 15). Jacó-Israel (Gn 32:22-31)
A informação de que esse Homem (Deus) não prevaleceu contém uma importante lição teológica sobre Deus em Seu relacionamento com os humanos. Sua “fraqueza” em Seu confronto com os humanos é uma expressão de Sua graça e amor e do mistério de Sua encarnação para salvar a humanidade. A impressão de fraqueza é imediatamente contradita pela ação seguinte do Homem. Um simples toque foi suficiente para produzir o deslocamento, sugerindo um poder sobre-humano. O lugar do golpe, “a junta da coxa de Jacó” (Gn 32:25), que se refere ao lombo ou à coxa, é um eufemismo para o lugar associado à procriação. O toque divino foi, portanto, uma bênção implícita que apontava aos descendentes do patriarca (Gn 46:26; Êx 1:5). O fato de Jacó ter sido atingido no órgão gerador da vida também está relacionado à proibição alimentar de comer sangue. Pois a vida está no sangue (Gn 9:4). Essa prática é, portanto, mais do que um mero lembrete da história de Jacó; também lembra aquele episódio bíblico e, com ele, suas lições teológicas. Também chama a atenção da pessoa que come carne para o princípio fundamental da sacralidade da vida.
O profeta Oseias interpretou a luta de Jacó com Deus como uma experiência de oração (Os 12:4). É a fé de Jacó que explica sua insistência tenaz (Lc 11:5-8). Assim, o novo nome de Jacó é “Israel”. A explicação do “Homem” apresenta uma série de paradoxos: (1) Jacó lutou com Deus, mas o “Homem” explicou que Jacó lutou também com homens; (2) o nome Israel significa literalmente “Deus luta”, embora essa explicação afirme que foi Jacó quem lutou; (3) Jacó havia acabado de ser atingido pelo “Homem”, que deslocou seu quadril, mas a narrativa explica que foi Jacó quem prevaleceu.
Todos esses paradoxos transmitem lições teológicas importantes: (1) a qualidade do relacionamento de Jacó com Deus dependia da qualidade de seu relacionamento com os homens (nesse caso, Esaú) e vice-versa; (2) o nome Israel, “Deus luta”, lembrava Jacó de que ele devia aprender a deixar Deus lutar por ele (ver Êx 14:13, 14). Jacó prevaleceria na medida em que permitisse que Deus prevalecesse sobre ele, um princípio que seria enunciado por Paulo: “Quando sou fraco, então é que sou forte” (2Co 12:10). Jacó chamou o lugar em que Deus apareceu para ele de Peniel, que significa “a face de Deus”. Esse nome representa a experiência pessoal de Jacó, ou seja, que ele foi confrontado por Deus e sobreviveu. O uso da expressão hebraica “face a face” não significa que Jacó de fato tenha visto a face física de Deus. Essa expressão equivale a ver “a forma do Senhor” (Nm 12:8) e descreve, em vez disso, a experiência de um encontro direto com Deus (Dt 5:4).
Jacó respondeu claramente à relutância de Esaú em aceitar seu presente (Gn 33:9), de modo a conectar seu relacionamento com ele ao seu relacionamento com o Senhor: “ver o seu rosto é como contemplar o semblante de Deus” (Gn 33:10). Jacó viu a “face de Deus” (Peniel) na face de Esaú. A experiência de Jacó com Esaú foi um segundo Peniel – o primeiro Peniel foi um preparo para o segundo. O encontro de Jacó com Deus o ajudou em seu encontro com seu irmão, e sua reconciliação com seu irmão afetaria seu relacionamento com Deus. Jacó entendeu que seu amor a Deus e o amor ao irmão dependiam um do outro. Jesus inferiu essa lição teológica singular das Escrituras:
“Jesus respondeu: – ‘Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Ame o seu próximo como você ama a si mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas’” (Mt 22:37-40). Jacó-Israel (Gn 32:22-31)
A angústia de Jacó. “E assim como o patriarca lutou toda a noite para conseguir livramento da mão de Esaú, os justos clamarão a Deus dia e noite por livramento dos inimigos que os cercam” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 201). De que modo a experiência de aflição de Jacó representa uma profecia de esperança para o fim dos tempos? Que aviso e encorajamento recebemos por meio da aflição de Jacó e que podem nos ajudar em tempos de angústia? Você já teve uma experiência pessoal que se assemelhou a um tempo de angústia – um período em que orou angustiado e encontrou o que parecia ser o silêncio de Deus? Como você lidou com essa angústia? Jacó-Israel (Gn 32:22-31)
Lutando com Deus. Lembre-se de momentos em sua vida em que você lutou contra tentações e dúvidas; como essas lutas o aproximaram de Deus? Compartilhe seu testemunho com a classe. Como a declaração ousada de Jacó: “Não o deixarei ir se Você não me abençoar!” (Gn 32:26) se aplica à oração? Por que “perder” a luta com Deus significa vencê-la? Como lutar com Deus pode mudar você para sempre? Leia e comente Romanos 7:23-25. Por que devemos “lutar” e por que é tão difícil lutar com Deus? Por que é impossível prevalecer por nós mesmos? Leia Efésios 6:12.
O rosto do irmão. Por que e como sua experiência com o perdão divino o ajuda a perdoar? Por que amar, respeitar e desfrutar as diferenças de alguém de outra raça, cultura ou religião depende de sua experiência de ver o próprio Deus? Que atitudes para com seu irmão ou irmã podem gerar neles a experiência de ver a face de Deus? Jacó-Israel (Gn 32:22-31)